Que passos poderiam dar as nossas bibliotecas para se aproximarem de um modelo de biblioteca 2.0?
A biblioteca foi, desde os seus primeiros dias, mais o lugar onde se escondia o livro do que o lugar de onde se procura fazê-lo circular ou perpetuá-lo. A própria disposição arquitetónica dos edifícios demonstrava-o melhor do que qualquer outro índice: na grande biblioteca de Ninive, o depósito de livros não tinha saída para o exterior – a sua única porta parece dar, ao contrário, para o interior do edifício, para o lugar onde viviam ou onde permaneciam os grandes sacerdotes. Da mesma forma, as bibliotecas medievais situavam-se no interior dos conventos, lugares dificilmente acessíveis ao profano, ao leitor comum.
Mais, as bibliotecas não eram “(…) simply the storehouses of books. They are the means of organizing knowledge and…of controlling that knowledge and restricting access to it. They were symbols of intellectual and political power and the far from innocent focus of conflict and opposition”. Harries, M, (1993:25)
Desde os sumérios, à Biblioteca de Menfis, à de Tebas, à de Heliopolis, à de Ulpian fundada pelo Imperador Trajano, em 114 A.C., uma das Bibliotecas mais famosas de Roma, à de Constantinopla, na Idade Média, às Bibliotecas Nacionais que se desenvolveram por toda a Idade Moderna, Oxford, a Biblioteca Nacional de França, etc., todas tinham esse traço comum que eram a de reservar o conhecimento para alguns poucos privilegiados que detinham o conhecimento.
Contudo, a partir da segunda metade do século XX, as mudanças sociais e tecnológicas ocorridas, têm vindo, de forma gradual, a alterar os comportamentos dos indivíduos devido à crescente democratização geral da sociedade, que proporcionou uma nova forma de estar e de ser dos indivíduos. O conhecimento estava cada vez mais ao alcance de uma boa parte da população devido à crescente alfabetização das sociedades. Claro que estamos a falar de sociedades ocidentais...
As bibliotecas então abriram-se ao público, a todos, e a própria arquitetura dos edifícios mudou drasticamente. Não mais salas fechadas, não mais estantes encerradas por chaves mestras.
Com o advento da Internet e, mais recentemente com a Web 2.0, deu-se uma nova revolução no conceito das bibliotecas pois a forma como nos relacionamos uns com os outros através delas, veio permitir a partilha e mesmo a produção da mais variada informação e conhecimento, colocando-nos a todos autores e coautores ou como diz Maness (2006) “ (...) colocando o sujeito no centro da atual (r) evolução tecnológica em curso”.
As plataformas, os blogues, os Wikis, os fóruns, os chats são exemplos de que se tem vindo a introduzir novas dinâmicas na aldeia global onde tudo é partilhado, criado e sustentado: ”Na base da Web 2.0 está a participação dos utilizadores: eles acrescentam valor à rede, o serviço melhora quanto mais pessoas o usam, qualquer utilizador pode criar conteúdos e avaliar os que encontra (ratting) ” (Carlos Pinheiro e João Paulo Proença).
Neste contexto, procurando responder às múltiplas solicitações desta sociedade da informação e do conhecimento, as bibliotecas têm vindo a consciencializar-se da necessidade de mudança e adaptação a esta nova realidade e devem portanto procurar a inovação e acompanhar as mudanças que ocorrem na comunidade, adaptando os seus serviços aos utilizadores para que estes melhor procurem, encontrem, construam e utilizem a informação. Para serem Bib 2.0 as bibliotecas deverão em primeiro lugar disponibilizar experiências multimédia, pois tanto as coleções como os serviços da biblioteca 2.0 deverão conter componentes de vídeo e áudio, não só de receção mas também de produção, deverão propor a criação e utilização dos blogues, deverão encorajar a partilha e a colaboração em páginas wikis, para além de reconhecemos que as bibliotecas escolares deverão assumir um papel muito importante, de liderança no ensino de competências de informação. (Nigel Lancastre, 2007)
O professor bibliotecário, que era referido no Egipto, como o “Guardião dos Livros Sagrados” ou no caso de uma mulher “A Senhora das Letras e da Casa dos Livros” cabe a tarefa não só de fornecer as ferramentas e os meios que favoreçam a aquisição de competências de literacia da leitura literária mas também a da informação, disponibilizando, selecionando, organizando e ensinando a produzir, a manusear e utilizar estas ferramentas tecnológicas.
Esta realidade pressupõe um “Guardião” com capacidade de liderança, dinâmico, interventivo, facilitador da interação entre a comunidade educativa, com domínio na área das TIC e da literacia da informação. Daí a importância destas ações de formação.
Este processo terá de ser necessariamente gradual e tem de ser operacionalizado de uma forma consciente, passando pela reflexão com todos os professores do agrupamento, pois a formação e atualização dos docentes é fundamental quando falamos das bibliotecas 2.0.
E não podemos esquecer a forma como a própria escola se posiciona face à utilização dos recursos e ferramentas da Web 2.0 e da própria utilização da biblioteca enquanto recurso pedagógico, pois é uma realidade que exige alteração de mentalidades e de práticas pedagógicas. Mais uma vez, o papel do professor bibliotecário é fundamental neste processo, pelo lugar que ocupa e pelas tarefas que lhe compete desempenhar.
Refletindo sobre os textos lidos e analisando a realidade que se vive no meu agrupamento, tenho consciência que ainda há algum caminho a percorrer, de forma a nos aproximarmos do conceito de biblioteca 2.0, que para ser pleno é necessário que nos centremos no utilizador, como parceiro na construção de conhecimento, participando na criação de conteúdos, partilhando e interagindo com outros elementos de uma mesma comunidade virtual, que também é considerada, socialmente rica e que, resultando da atividade coletiva de todos os utilizadores da rede, irá transformar a web numa espécie de cérebro global e numa sociedade aprendiz.
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